28 de jun. de 2012


Na (excelente) oficina de Prosa Narrativa que participei na PUC-Rio, com a Profa. Pina Coco, usei 'Diadorim' como pseudônimo. É um dos meus personagens preferidos. Em um dos exercícios da oficina, escrevi a biografia do pseudônimo. Aí está:


Nasceu em uma vereda pra lá de São João Nepomuceno, bem debaixo de um espinheiro branco que entrecortava a lua cheia. A parteira foi o pai, Laurindo Prazeres, que se tremia todo. O padrinho foi o tal Sete-de-Ouros, burrinho pedrês famoso, que naquela época pertencia ao corpulento Major Saulo da fazenda da Tampa, patrão de Laurindo. Parto difícil, sujo, esquecido, mas vencedor. Tirando a mãe que depois de ver o nenê e dizer: “Diadorim, vai se chamar!”, bateu os olhos na lua e de lá nunca mais voltou. Morreu ainda vivinha, com os olhos mais arregalados do sertão. Mesmos olhos que a menina herdou. Olhos de ver tudo enquanto crescia e se fazia homem sozinha, porque o pai sumiu com uma rameira. A menina entrou prum bando, pegou ziquezira, plantou nas coxas, cavalgou montes e amou. Essa última foi sua ruína, porque seguiu o coração, mas prendeu a língua com sete nós de arminho santo. Nunca falou que amava, nem pra sombra de todo dia. Cortou cabelo, botou calça, engrossou voz e cuspiu cachaça provando o que de verdade mesmo não tinha entre as pernas. No comprido das veredas, de andança em andança, pra não morrer de desespero, escrevia. A chuva, o sol, a poeira, o amor que cavalgava ao seu lado, o silêncio. Mas a morte encontrou uma encruzilhada perdida no cafundó e entreteceu. Bem quando decidia desfazer sua promessa e se declarar tirando a roupa forjada, tomou sete tiros, um pra cada nó santo, um pra cada vez em que podia ter dito e se calou. Morreu como a mãe, os olhos arregalados, mas o que viu não foi lua, foi tristeza no rosto do amado que lhe beijava a tez castigada pelo sol.

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