A Lua é o espelho dos poetas e dos amantes. Mesmo que estejam longe, sempre poderão se ver como se contemplassem suas imagens na superfície calma de um lago brilhante. Aqui estou, desse lado do céu, a enxergar você aí, do outro lado, que me olha nos olhos, e assim nos vemos... Da minha janela, o horizonte é vasto e posso ver tudo o que meus olhos imaginarem: de cavalos trotando em campinas distantes a crianças trocando segredos, dentes-de-leão desprendendo-se com o vento e (por que não?) o seu olhar perdido no horizonte além da sua janela. Mas é somente quando olho dentro dos olhos da Lua que enxergo os olhos do ser que me contempla, profundamente. Dentro de nós, então, forma-se um rio que corre nos dois sentidos, carregando para um e para outro nossos melhores sentimentos. Olho para a Lua e sinto-me escorrer de encontro a essa força até desaguar-me por completo no silêncio da noite ancestral. Imersos, saberíamos dizer em qual oceano? Em que olhar desaguamos?
Lavo meu peito em fogo líquido
Escorro soberbo
arrastando cascalhos
removendo entulhos
Sei que estou virando um rio
O vento sopra do extremo oásis
onde ninfas dançam entre flores raras
A campina verdejante exibe pérolas de orvalho
O sol
Imagino-me uma espécie de antúrio selvagem
porque pareço invisível
Sigo veloz alargando a margem
acumulando musgos
no movimento eterno de percorrer o caminho
Do outro lado do céu
rasgando o tecido escuro
a água escorre carregando estrelas em sua queda
estupenda
infinita
lavando o fogo em vida líquida.
(Diogo Borges)